Por Fernanda Bogoni
Um visionário arquiteto foge da Europa no período pós segunda grande guerra, onde busca reconstruir sua vida e carreira. O drama histórico, estrelado por Adrien Brody e premiado com três estatuetas do Oscar, trouxe novamente à cena o Brutalismo, um dos movimentos arquitetônicos mais marcantes do Século XX. Mesmo hoje, o estilo - embora polêmico - continua influenciando obras de arte e design, com suas estruturas maciças, suas enormes formas geométricas, seus materiais brutos e sua estética muito particular.
O termo Brutalismo tem origem no francês "béton brut", que pode ser traduzido como "concreto bruto ou aparente" e, de acordo com pesquisadores, teve influência do próprio cenário onde viveu seu maior precursor, Le Corbusier. A pequena localidade suíça de La Chaux-de-Fonds, onde nasceu o arquiteto, ficava quase na divisa com a França e ficou famosa por ser a capital mundial dos relógios, pois, à época, produzia e exportava relógios para o mundo todo.
Esse contato com a atmosfera industrial o fez observar a vida e o cotidiano das pessoas, traduzido em residências e projetos posteriores. O termo, no entanto, foi cunhado e popularizado pelo crítico de arquitetura inglês Reyner Banham, da revista The Architectural Review.
A imponência do concreto e a funcionalidade além da ornamentação

SESC Pompeia — Foto: Reprodução/Revista HAUS
O Brutalismo surgiu justamente para se contrapor aos estilos arquitetônicos anteriores, que tinham uma ornamentação excessiva, e também tem no Brasil nomes de destaque na arquitetura, como Paulo Mendes da Rocha, o curitibano João Vilanova Artigas e Lina Bo Bardi. Principalmente de 1950 a 1970, o intenso crescimento econômico do país foi o cenário onde a expressão desses profissionais se destacou com a influência modernista.
Uma das características mais fortes da arquitetura brutalista é o foco no concreto de cor natural como matéria-prima, que além da durabilidade e resistência, confere aos espaços solidez e um grande impacto visual, perfeito para refletir as mudanças sociais após a Segunda Guerra.

MASP — Foto: Reprodução/The Photographer
Na capital paulista, alguns edifícios como o Museu Brasileiro de Escultura, a sede do Tribunal de Contas, o MASP, o Estádio do Morumbi, o prédio da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (USP), o SESC Pompeia, entre outros, foram concebidos a partir de tal estilo. Neste último, por exemplo, a arquiteta Lina Bo Bardi projetou o espaço sobre um terreno de uma antiga fábrica de barris de petróleo, com passarelas aéreas que foram um marco na cidade.
Em quase toda a América Latina é possível ver de perto a manifestação do brutalismo. E, em Curitiba, não é diferente. O atual Portão Cultural, que hoje abriga o MuMA — Museu Municipal de Arte, criado em 1979 pelo arquiteto Marcos Prado a partir de uma estrutura de concreto armado, teve intervenções ao longo dos anos, mas ainda conserva uma estética desse estilo.

Portão Cultural — Foto: Reprodução/André Nacli
Assim como duas das principais edificações do Clube Curitibano, no bairro Água Verde. O livro “Modernidade concreta: a ousadia que mudou a história do Clube Curitibano”, do arquiteto Fábio Domingos Batista e da historiadora Deborah Agulham Carvalho conta um pouco dessa história.
O edifício Castello Branco, de 1967, atual Museu Oscar Niemeyer, projetado pelo renomado arquiteto homônimo, não é exatamente uma obra com as particularidades estéticas do brutalismo, embora apresente o concreto bruto como uma de suas marcas.

PARANÁ PREVIDÊNCIA — Foto: Reprodução/André Nacli
Outros locais em Curitiba onde o movimento se expressa são as sedes do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná, no Cabral, e da Paranaprevidência, no São Francisco, a Casa Niclewicz, projetada pelo curitibano João Vilanova Artigas, entre diversas residências.

Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná — Foto: Reprodução/IDR-Paraná
E você, já parou para observar o brutalismo por aqui? Com certeza, há diversas obras que não foram citadas em nosso texto, fique à vontade para contribuir e compartilhar com a gente. Ah, e não deixe de ver o filme: é longo, mas vale a pena.